Transcrição do episódio:
LT: Oi, aqui é a Letícia Toledo e você está ouvindo o podcast Caçadores de Sucesso, onde eu e o Sérgio Goldman deciframos as histórias de grandes negócios brasileiros.
No episódio de hoje, a gente vai falar sobre um negócio que parece relativamente simples. É um canal no YouTube. Só que esse canal foi criado em novembro de 2022 e enquanto a gente grava esse episódio, no fim de 2024, ele já conta com mais de 16 milhões e 600 mil inscritos.
E você aí nos ouvindo talvez até seja um deles.
SG: Pois é, Letícia, nesses dois anos de existência, a CazéTV transmitiu alguns eventos esportivos mais populares do planeta, como a Copa do Mundo de Futebol de 2022 e os Jogos Olímpicos de 2024.
Por trás desse negócio tem um influenciador e apresentador bastante carismático, com sócios bastante experientes e um mercado passando por uma baita revolução. E a gente vai entender mais sobre tudo isso nesse episódio do Caçadores de Sucesso.
SG: Bom, para começar, precisamos falar um pouco sobre a grande celebridade dessa história, que é o Casimiro Miguel, certo?
LT: Pois é, o Casimiro Miguel, que é um vascaíno, que até então era um estudante de jornalismo quando ele teve a sua primeira experiência em torno dos esportes e em torno do que levaria ele até a CazéTV.
A primeira experiência profissional dele foi em 2014 no canal Esporte Interativo, que atualmente é a TNT Esportes. Lá, nessa época, ele trabalhava na produção do Esporte Interativo e os donos da empresa identificaram que ele tinha um talento para comunicação.
Pelo que se conta da época, ele já era essa figura bem carismática que a gente conhece, então eles criaram, os donos do Esporte Interativo criaram um canal de YouTube para que ele e mais uma outra pessoa que trabalhava ali na produção dos programas, para que os dois pudessem interagir ali com o público.
O nome do canal foi — que existe até hoje, né? É o de Sola. E ele foi criado lá por 2016. Então fazia uns dois anos aí que o Casemiro tava no Esporte Interativo, né?
Pedro Certezas: Você acha que o Tietê não viu o Globo Esporte que pareceu... Porra! A derrocada foi ali, po***!
Casimiro: Você quer que eu refaça a intro? [Imita música tema do Globo Esporte]
PC: De novo. Sem... Pô, car***! Faltou o cara da bike, faltou o cara da bike. Vai de novo, vai de novo.
C: Boa tarde! E o Vasco jogou ontem, hein?
PC: Você de casa!
LT: E o Casimiro continuou trabalhando nos negócios da Sport TV, do Esporte Interativo, mas ele, em paralelo, criou um próprio canal na Twitch. E a Twitch, para quem não sabe, não conhece, é um serviço de streaming de vídeo ao vivo, que hoje em dia é da Amazon e que é usado muito no meio gamer. Para transmitir partidas de videogame.
A pessoa fica jogando e comentando ali. E o restante, a audiência fica assistindo. É um público que é muito grande. Muito fissurado nesses jogos. E eles ficam acompanhando todo mundo. E o Casimiro tinha esse canal... E foi criando um público muito fiel ali que gostava de acompanhar as partidas dele.
Então ele tinha isso, aí depois ele foi reagindo a jogos de futebol também ali na Twitch, acompanhava jogos e ia reagindo, fazia os chamados reacts, que é também assistir um programa de TV e fazer comentários sobre esse programa ao mesmo tempo.
E aí tudo isso começou a bombar durante a pandemia, né? Com todo mundo trancafiado em casa, muita gente sem muito entretenimento, muita coisa pra fazer, acabou migrando aí pra Twitch e assistindo esses vídeos. E além de comentar essas coisas, né?
Uma coisa que chama muita atenção na vida do Casimiro é a capacidade dele de contar histórias e inserir boas histórias nos vídeos dele. Então... Durante essas transmissões, ele sempre estava inserindo alguma coisa da vida dele, uma anedota, contava alguma coisa e parecia essa identificação com o público, uma pessoa muito divertida, uma pessoa muito despojada e espontânea.
Narrador: Empreendedores trazem inovação do mercado de sorvete.
Casimiro: Amigo, isso é comigo mesmo. Eu sou um grande interessado no mercado de sorvete. E se lançaram o Sorvete 2.0, eu estou dentro.
N: O sorvete 2.
C: Eu quero o sorvete 2. Me dê, papai.
N: Você sabe qual é um dos piores alimentos do mundo? O Marcos e a Lidiane têm a difícil missão de transformar esse alimento em algo nutritivo, saudável...
C: Não! Eu caí no bait, eu caí no bait, velho. Eu caí no bait, eu caí no bait. P****, cara. P***, não era o que eu queria. P***, não era o que eu queria.
N: Muito saboroso.
LT: Bom, e aí o Twitch, ele deu origem ao canal no YouTube, que se chamava Casimiro, que era justamente um canal reproduzindo os vídeos que eram feitos ao vivo na Twitch, né? E com isso ele foi crescendo o número de pessoas que seguiam e se identificavam com o Casimiro, com essa autenticidade toda.
Eu tava fazendo uma breve tarefa aqui, tentando retomar no meu cérebro, enquanto eu pesquisava a história do Casimiro e tudo mais, sobre a primeira vez que eu fui impactada, né, pelo conteúdo.
E pra mim, acho que aconteceu de uma maneira meio que, assim, paralela.Ao mesmo tempo que eu tava morando com uma pessoa, né, meu ex-marido, no caso, a gente tava ali no período pandêmico, e aí eu passava na frente do computador e ele tava o tempo todo com o vídeo com uma pessoa ali aberta.
E eu fui identificando cada vez mais, né, falei, quem tem esse cara que tá sempre... nos vídeos, e era o Casimiro, porque ele tava assistindo, consumindo todos os reacts, e aí eu tenho um grupo de amigos que de repente também, todo mundo começou a mandar lá, falar: “olha, esse vídeo é muito bom, esse vídeo é muito bom”, dele reagindo a vídeos sobre mansões, vídeos sobre comida, umas coisas assim, as pessoas começaram a adotar os bordões dele.
E no primeiro momento eu nem entendi, assim, né, eu falei, por que raio você quer assistir alguém reagindo sobre, né, em cima de um outro vídeo, assiste o vídeo direto. Mas aí depois eu entendi, né, parando pra ver que a figura do Casimiro era uma figura muito divertida e que, ao mesmo tempo que contava histórias muito curiosas e diferentes, é muito o senso comum que ele traz sobre os vídeos, né.
Então ele pegava uns vídeos absurdos e comentava o que todo mundo tava achando realmente, né, de alguém numa mansão, mostrando a mansão, e ele comentava sobre esse absurdo que é essa vida numa mansão, e isso traz uma identificação com o público muito grande, né.
Agora eu queria entender, Sérgio, se você tem uma lembrança, qual foi a primeira vez ou as primeiras vezes aí que você foi impactado por algum conteúdo do Casimiro, né?
SG: É, Letícia, eu tenho sim. Eu comecei com aquela expressão, né? Porra, o que esse maluco tá fazendo aí na internet narrando futebol? Porque realmente era totalmente diferente das narrações tradicionais, que por sinal são extremamente chatas, né? A safra de narradores e de comentaristas esportivos hoje em dia é bem fraca e isso também criou uma oportunidade para o próprio Casimiro.
Eu sou apaixonado por futebol, sou flamenguista e admiro muito o Casimiro, apesar de sermos rivais, como grande vascaíno. A gente torce por lados diferentes, mas não dá para deixar de notar as qualidades que ele tem de comunicador.
O que eu vejo nele também de bem interessante é a capacidade de criar bordões, né? Que é muito comum nos locutores das antigas, né? O Casimiro tem a famosa “meteu essa”, tem também o “que papinho”.
Eu acho que a grande virtude dele é exatamente conversar com o público, né? E permitir a participação de quem está assistindo as transmissões dele. Isso, para mim, é um ativo muito importante para qualquer veículo de mídia, né?
Dizem as más línguas, ou as boas, que o Cazé já recusou a proposta da Globo, que ele queria ter mais liberdade criativa. O que eu acho bem corajoso, que o mercado ainda é bastante dominado pela Globo.
Uma das coisas que eu li nas últimas semanas e que eu achei bem legal, e fala muito sobre o carisma do Cazé TV e do próprio Casimiro, é que as transmissões dele colocam a audiência assistindo o jogo junto com a galera, né?
LT: E a gente vai falar mais pra frente, acho que do público que ele conseguiu atrair, que é muito também característico e diferente do público que assiste a... TV tradicional, né?
Mas é claro que só esse carisma dele não é capaz de construir um império como o da Cazé TV, com esses números gigantescos, como a gente já mostrou aqui em menos de dois anos, né?
Quer dizer, em dois anos de negócio aí, a gente tem que falar aqui também do pessoal que fica nos bastidores, que negocia os direitos, e aí tem um nome forte por trás disso, que é a LiveMode.
Então eu queria, Sérgio, que você contasse pra gente quem é, onde vive, do que se alimenta essa tal de LiveMode.
SG: A LiveMode, muita gente não conhece, mas a LiveMode é uma potência nesse mundo de transmissões esportivas. Ela foi fundada em 2017 por dois executivos bastante experientes nesse mundo de esportes e transmissões esportivas, Sérgio Lopes e o Edgar Diniz.
E é importante que as pessoas entendam que, nesse mercado, experiências e contatos são fundamentais, porque são muitos interesses para gerenciar ao mesmo tempo. O envolvimento do Sérgio e do Edgar com negócios ligados a esporte começou em 1999, quando eles criaram a Top Sports, que era uma empresa de consultoria e investimentos no futebol.
Passados alguns anos, a Top Sports criou a Esporte Interativo, que é onde os dois conheceram o Casimiro. A primeira transmissão do Esporte Interativo foi em 2004, bem antes do Cazé chegar, e passou na Rede TV. Era uma rodada dupla da NBA, o basquete profissional dos Estados Unidos.
Aí em 2007, a Esporte Interativo ganhou um canal próprio e foi se estabelecendo. Em julho de 2013, a Turner Broadcasting, que é uma gigante de comunicação dos Estados Unidos, anunciou a compra de 20% do capital.
Dois anos depois, portanto em 2015, foi anunciada a venda do resto do capital da Esporte Interativo para a própria Turner. Os dados não oficiais dessa venda dão conta de um total de 250 milhões de reais, mais um comprometimento de 150 milhões para que o Esporte Interativo conseguisse o direito de transmissões de alguns eventos bem relevantes, principalmente da Europe Champions League.
Então, dá para se afirmar tranquilamente que a LiveMode é hoje um dos principais players do Brasil nesse setor de negócios e marketing esportivo, além de distribuição de eventos esportivos de grande porte.
Por isso eu acho importante a gente listar alguns eventos que a LiveMode conseguiu conquistar nos últimos anos. Teve a Copa do Mundo Masculina em 2022, que foi o gatilho para a criação da Cazé TV. A Eurocopa de Futebol Masculino de 2024. As Olimpíadas de Paris também em 2024. A Copa do Mundo de Futebol Feminina em 2023. Alguns jogos do Campeonato Carioca de Futebol, principalmente do Vasco, que é o time do Cazé. E os direitos de transmissão do Mundial de Clubes, em 22 teve o Flamengo e em 23 teve o Fluminense.
É importante frisar que esses são alguns dos direitos que a LiveMode conseguiu, porque a lista toda ia ficar bastante entediante de ouvir. A LiveMode é uma empresa contratada por diversas entidades esportivas.
Cazé: E a entidade é fantasma, né? Entidade, né? Entidade. O que é uma entidade? Entidade é um fantasma, né? Porra, é espírito. Aí é fo***. Vai contratar uma entidade? Calma aí, doidão. Deus é mais, né? Po***, tá maluco? Po***, a gente vê uns videozinhos aqui às vezes que... Ó, tô me perdendo de novo, tá vendo? Mas, enfim... Sempre... Po***, tá vendo? Os caras ficam gastando. Calma, cara. Eu sei que você é profissional nesse momento. Eu tô comunicando um negócio importante, cara. E vocês ficam de gracinha no chat, cara. Po***. Tô falando na moral, cara. Entidade, cara. Entidade esportiva, tá ligado? Entidade esportiva.
LT: E com isso acho que a gente começa a entender melhor como a história da Live Mode se cruza com a história do Casimiro, né?
Quer dizer, todo mundo ali já se conhecia e agora eles tinham de um lado os direitos de transmissão e do outro um jeito totalmente diferente e novo de transmitir, né?
SG: Vale a gente detalhar o momento que isso aconteceu. Em 2022, a Globo perdeu o direito de transmitir a Copa do Mundo pela internet em função de um imbróglio com a FIFA. Daí a FIFA, que já conhecia Live Mode de outros carnavais, contratou a empresa para buscar um comprador para esses direitos de transmissão pela internet.
Só que a TV dominava tanto as transmissões de jogos que as ofertas recebidas pela FIFA foram bem baixas. Então ela resolveu não vender e buscar monetizar de alguma outra forma. Aí a Live Mode pensou, e se a gente criasse um canal para aproveitar e transmitir a Copa na internet? E se esse canal fosse com o Casimiro, que já tem um público?1
LT: Eu acho bem interessante essa parte da história, porque quando a gente lê matérias sobre Cazé TV, nos jornais de negócios e tal, a gente sempre vê aquelas manchetes assim, “Casimiro tem uma baita estratégia”, “vai transmitir a Copa do Mundo”, “Casimiro Miguel consegue os direitos”, a FIFA, nananã…
Só que quando a gente vai entendendo, na verdade, a história, a gente percebe que é uma mistura de sorte com timing, né, com estar no lugar certo, na hora certa, e de uma experiência profunda no setor que tem esses fundadores da Live Mode, que por sinal são os mesmos do Esporte Interativo. Então quer dizer, tem essa confluência de astros aí praticamente tomando conta dos negócios, né.
E outra coisa que eu acho interessante falar é que depois que os fundadores da LiveMode venderam o Esporte Interativo, eles pegaram boa parte desse dinheiro e eles foram para o Vale do Silício.
Então, lá eles fizeram um intensivão de cursos, conheceram empresas. O Edgar, que é um desses dois fundadores, ele conta que ele ficou lá um ano estudando inovação e tecnologia para entender o que estava acontecendo, o que tinha de mais novo e tecnológico no mundo dos negócios. E com base nisso, pensar novas maneiras de criar algo aqui no Brasil.
Então eles se prepararam realmente para criar um negócio esportivo voltado para o futuro, pensando em novas tecnologias, pensando na mudança do mercado como um todo. Então tem uma preparação por trás dessa história, que parece muito uma história de sucesso instantâneo.
E isso eu acho um bom gancho também para a gente entrar nos números da Cazé TV que viraram manchetes e entender como é que o canal está hoje, o que ele tem tanto em relação a outros players do setor.
Então primeiro a gente tem esse número de 16 milhões e 600 mil inscritos no canal no YouTube... No canal aí, Cazé TV mesmo, né. Nem é o Casimiro mais, nem é a Twitch antiga do Casimiro, mas o negócio Cazé TV.
E depois, os dados mais recentes que a gente tem de grandes eventos, tem o caso dos Jogos Olímpicos de Paris de 2024, onde eles obviamente bateram o recorde de audiência, alcançando 40 milhões de dispositivos diferentes2. Só com as transmissões e os conteúdos dos jogos no YouTube.
A gente tem uma base de comparação com esses 40 milhões. A Globo, que é dominante, player absoluto, teve 140 milhões e 400 mil pessoas impactadas, impactadas nas Olimpíadas.
Isso quando a gente conta tanto a TV Globo quanto os outros canais, né, Sport TV, Globoplay, Globo Esporte e afins. Então a gente vê que é um número muito expressivo esse da Cazé TV, de 40 milhões, ante os 140 milhões aí da Globo, sendo que Cazé TV só tem dois anos, né? E é um terço aí do número da Globo.
E diga-se de passagem que também não é como se a Globo ela tivesse sendo enfraquecida nessa estratégia e não, porque, segundo ela reportou, em 2024, nessas Olimpíadas, ela teve um público 10% maior, uma audiência 10% maior do que a Olimpíada anterior, que foram as Olimpíadas de Tóquio.
Isso, então, reforça, é importante porque reforça uma narrativa que tem sido adotada até aqui, tanto pelo Cazé quanto pelos donos da Live Mode, que é de que eles não estão competindo com a Globo, de que o canal deles está atraindo um público diferente, um público mais jovem, um público que gosta de algo mais descontraído,
Um público que, como eu estava dizendo lá no começo, muitas vezes não estava assistindo um jogo, não estava acompanhando fissuradamente os esportes, como é o meu caso, que acaba... Sendo muito mais atraída por um modelo Cazé TV do que um modelo Sport TV.
Mas agora eu queria passar a bola para você, Sérgio, para entender o que a gente tem de número de faturamento. Tem alguma coisa nessa área?
SG: Muito amiga você, Letícia. Essa questão de números para empresas de capital fechado no Brasil é uma luta inglória. A gente não consegue muita informação financeira sobre as empresas e no caso da Cazé TV ou mesmo da Live Mode, a situação é exatamente essa.
Pesquisando as histórias, a gente cruzou com uma informação dada por uma entrevista de um especialista em YouTube, dizendo que a Cazé TV faturou 100 milhões de reais só com a cobertura das Olimpíadas de Paris.
Além disso, a gente tem uma ideia dos patrocinadores, do tamanho e da relevância dos patrocinadores. Na Copa e nas Olimpíadas, estamos falando de empresas como Havaianas, da Alpargatas, iFood, Mercado Livre, Samsung, Volkswagen.
O próprio Estadão conseguiu um plano de mídia deles nessa época e viu que eram valores parecidos com os do BBB, com cotas de patrocínio de até 11 milhões3. Lógico, tem negociação, chorinho, etc., mas é um norte.
Mas aparentemente os números são bons. Eles são tão bons que os resultados chamaram a atenção de General Atlantic e do braço de Private Equity da XP4, que acabaram investindo na Live Mode.
Para quem não conhece, a General Atlantic é uma gestora de Private Equity com atuação em mercados desenvolvidos e emergentes, tendo inclusive investido na própria XP alguns anos atrás.
Aqui, de novo, a gente não tem um dado oficial sobre o investimento que foi feito na Live Mode, nem o valuation desse investimento, mas o portal Pipeline do Valor Econômico5 diz que foi coisa de 650 milhões de reais com valuation de 1,2 bilhão de reais.
Pessoalmente, eu acho que esse valor está um pouco baixo, porque isso daria para os dois fundos mais de 50% do negócio, mas é o que nós temos por enquanto.
Já em outro portal, o Latin Lawyer6, falou-se que o valor investido pelos dois fundos foi de 85 milhões de dólares, que eram aproximadamente 440 milhões de reais na época do investimento em abril.
E aí fica a pergunta de um quatrilhão de dólares. Como é que eles vão usar esses recursos? Eu acho que deve ser principalmente para fortalecer o relacionamento de longo prazo com clubes, federações e entidades ligadas ao esporte.
LT: Pois é, e aqui falando dessa história de holding, investimentos, eu acho importante a gente entender como é que pontuar o que a gente vem falando até aqui sobre Live Mode, CazéTV e etc.
A Live Mode, ela hoje é uma empresa que funciona como uma holding, que tem vários negócios e um dos seus negócios é a CazéTV. Eles são donos juntamente da CazéTV com o Casimira Miguel e esse é hoje o principal negócio da Live Mode, mas não é o único.
Segundo os próprios fundadores da Live Mode, a empresa foi criada com uma missão de olhar para os detentores de direitos de transmissões, como os clubes, as ligas e as federações que você mencionou aqui, Sérgio, e com isso ajudar eles a construir um novo modelo, uma nova forma de gerar receita para os times, né, porque…
E aí a Cazé TV pode ser uma das soluções que eles têm, né, no portfólio, porque são donos ali da Cazé TV, mas também eles podem trazer outras soluções, como foi, por exemplo, lá atrás, para o Atlético Paranaense, que virou cliente, e eles desenvolveram um app e um site próprios para a transmissão dos jogos.
Tudo isso porque tem um contexto maior, que é a transformação da indústria do esporte e das mídias como um todo. A gente está falando do declínio da TV paga, ao mesmo tempo que a internet está mais avançada, tem os serviços de streaming, tudo isso impacta.
Então, a Live Mode e a CazéTV, elas existem nesse cenário para tentar monetizar os esportes de uma forma diferente. Até porque a TV, o aparelho de televisão, ele está cada vez mais funcionando, uma tendência... Que já tem acontecido muito forte lá fora e vem acontecendo aqui dentro agora, é a TV funcionando como uma espécie de um tablet gigante, onde você liga e tem vários aplicativos diferentes de várias plataformas de streaming, e aí você escolhe um desses aplicativos para assistir, ao invés de ligar a TV e de repente colocar em algum canal normal, de TV aberta ou TV a cabo.
Além de tudo isso, a gente tem uma outra mudança no próprio futebol brasileiro acontecendo, que é a lei que teve lá em 2021, que permitiu que os clubes de futebol se tornassem empresas, que é a Sociedade Anônima do Futebol, mais conhecida como a SAFs.
Com isso, os clubes tiveram a oportunidade de deixar de ser, eles não são mais associações sem fins lucrativos, e passaram a avisar o lucro realmente, movimentando e profissionalizando o mercado.
Hoje a gente tem 8 dos 20 clubes, por exemplo, da Série A do Brasileirão, nas mãos de proprietários privados, trabalhando em cima do lucro dos negócios aí também então essa é uma mudança importante no mercado e que cria mais stakeholders mais gente participando desse negócio que é o futebol.
SG: Esse conjunto de mudanças não é visível só para Live Mode. Acho legal a gente falar da concorrência da CazéTV. No momento, a CazéTV tem vantagens fenomenais. Os melhores eventos esportivos do mundo, um público crescente e a figura carismática do Casimiro. Mas tem mais gente nesse mercado.
Eu vou falar de dois. O primeiro é o GOAT, que tem 3,8 milhões de inscritos no YouTube. Para quem não sabe, GOAT significa cabra ou bode em inglês, mas também é um acrônimo muito usado no esporte para Greatest of All Time, ou seja, o melhor de todos os tempos.
O canal GOAT começou em 2023, ficou um tempo parado, mudou várias coisas e hoje voltou a transmitir partidas da Série B do Campeonato Brasileiro. Eles também têm o direito de transmissão da Liga Saudita de Futebol, do Campeonato Alemão, do Brasileirão Feminino da Libertadores Feminina e da Liga de Futebol Feminino dos Estados Unidos.
Aí você também tem uma audiência bem interessante, já que a Série B tem 20 equipes e tem público crescente para o futebol feminino.
O segundo competidor é a Play 9, uma empresa que foi fundada por João Pedro Paes Leme, um ex-executivo da Globo e que tem o influenciador Felipe Neto de sócio. A Play 9 fez uma parceria com o Galvão Bueno para a narração de um amistoso de futebol entre Brasil e Marrocos. E teve 10 milhões de view, com um pico de 1,5 milhão de aparelhos ligados simultaneamente.
É um bom desempenho, mas foi um evento pontual. E não tem nada, por enquanto, que mostre que a Play 9 vai investir numa grade de programação contínua.
LT: Pois é, acho interessante a gente falando de cenário atual, esportes, negócios, uma questão de aproximação com o público na internet.
Uma das coisas que a gente nota na CazéTV é que ela tem se posicionado mais recentemente sobre a questão da diversidade. E um exemplo disso foi o destaque que ela deu para a Copa do Mundo feminina de futebol, que bateu o recorde mundial de audiência simultânea para um canal, para uma transmissão no YouTube.
Isso foi um marco importante não só nos números, mas também porque a Casé TV foi criticada por ter uma bancada de apresentadores, majoritariamente homens e brancos.
E aí, com base nessa cobrança toda do público, nessas críticas, o próprio Casimiro Miguel admitiu o erro e falou que o público tinha razão em criticar e eles iam trazer mais diversidade nas próximas competições. E foi isso que a gente viu nos Jogos Olímpicos.
Cazé: É difícil, mano. É difícil, cara. Porque a gente cai nesse ciclo do que não é nosso amigo, é indicação de amigo. E essas pessoas já estão inseridas no mercado de trabalho há muito tempo. São pessoas ótimas, são pessoas competentes. Só que dá pra fazer diferente.
E hoje foi o primeiro dia, a gente... Parte da nossa equipe foi apresentada hoje, tem mais gente. A gente tá ainda no primeiro dia, né? E é isso, tá ligado? Assim, a gente errou, né? A gente errou.
Então, isso também mostra uma outra dinâmica da internet, né? E a gente fala de negócios, ESG, o quanto hoje as empresas são mais cobradas e uma empresa como a CazéTV, que está mais próxima do público, ela tem que se atentar a isso e responder rapidamente.
É importante essa questão de se posicionar, de entender, de atender o público ali, para conseguir estabelecer um negócio, quando a gente fala de um negócio online, né. Porque as coisas ali, as críticas são muito... Incisivas e a gente sabe que a internet tem muito isso da política do cancelamento e tal, então é preciso ter muita atenção sempre.
E aí a gente lembra também que apesar desse sucesso estrondoso, a gente está falando dos primeiros anos de uma empresa que é muito nova e num mercado muito novo, então que a CazéTV está aí ainda tateando os próximos passos.
E eu vejo que o consumo de esportes no Brasil ainda pode impulsionar muito a CazéTV e não só no futebol. Quando a gente olha, por exemplo, a NFL, que é a liga de futebol americana dos Estados Unidos, ela está se mexendo muito no Brasil, angariando um público grande. E a CazéTV, por exemplo, já abocanhou os direitos de transmissão aqui no Brasil.
Então, para não ficar só focado ali nos esportes que já estão no mainstream brasileiro, né? E uma coisa que eu pesquisei é que os sócios da Live Mode, eles não estão no negócio de comprar direitos de transmissão. Isso eu acho importante salientar, né?
O que eles fazem é um revenue share7, ou seja, eles dividem o que vem com faturamento, patrocínio e tal, pegam isso e dividem os lucros com os donos dos direitos de transmissão, né?
Então não é como se eles comprassem aquilo aí pra ir em exibição na CazéTV, não. Primeiro eles exibem e depois eles chegam pro time, pra FIFA, pra quem autorizou e falou: "olha só, o bolo de lucro deu tanto, então toma aqui pra você e toma aqui pra gente”, né?
Isso criou um modelo diferente porque quando a gente tinha as TVs quando a gente tem hoje ainda, TV Globo e etc., o que elas fazem é comprar os direitos de transmissão dos jogos e, com isso, os clubes não têm acesso aos lucros dessa transmissão, ou pelo menos não tinham no modelo passado.
Então, por isso que o fato de os clubes hoje terem acesso à CazéTV pode representar um ganha-ganha ali.
SG: Uma coisa que a gente sabe é que o setor de mídia, em geral, está passando por grandes transformações e a mídia esportiva faz parte desse movimento.
Uma das maneiras que eu gosto de tentar antecipar eventos futuros é olhar o que está acontecendo nos mercados desenvolvidos. Quando a gente olha para os Estados Unidos, a gente vê que... Tem duas empresas que podem servir de benchmark para a CazéTV e Live Mode.
Uma delas é a Liberty Media, que é uma empresa de capital aberto, controlada pelo magnata de mídia John Malone, que tem os direitos de transmissão da Fórmula 1 e da MotoGP.
A outra é a Endeavor, que tem os direitos do UFC e também da WWE, que é a Liga de Luta Livre dos Estados Unidos.
Eu dei uma olhada rápida nessas duas e elas têm uma série de negócios acoplados à transmissão. Como, por exemplo, geração de dados a partir das transmissões. A Liberty, inclusive, é dona da Sirius FM, que é uma cadeia de rádios por satélite, bastante grande, fatura algo como 7, 8 bilhões de dólares por ano.
Então, acho que a gente está num ponto de inflexão dos negócios de esporte no Brasil, com muita oportunidade, mas também com muito risco, como sempre.
LT: Sim, falando dos riscos, que é algo que, assim, eu às vezes estou até pessimista demais, eu falo, porque eu gosto de enxergar o lado ruim, né, o copo meio vazio também, porque eu acho importante nos negócios…
A gente sabe que sempre tem muito risco, né, então eu separei aqui um que eu vejo grande para a CazéTV, que é justamente o fato de o nome, o negócio estar associado a uma pessoa. Construir tudo isso baseado numa figura como a do Casimiro Miguel, que é hoje visto como um cara super carismático, etc., pode ser algo difícil para uma marca, porque as pessoas, a gente sabe, como eu falei anteriormente na internet, elas são canceladas muito rapidamente quando surge um fato novo.
E aí, quando surge alguma coisa e a pessoa é cancelada, uma série de patrocinadores se retira e tem todo um trabalho de gestão de crise, de reconstrução de imagem, sem garantia de que vai funcionar e que demora, né? Às vezes os patrocinadores até voltam, mas demora.
Outro risco é essa coisa de ter um canal que mistura descontração e jornalismo ao mesmo tempo, sem uma imparcialidade, uma formalidade profissional grande como é a da TV Globo, por exemplo.
Tem um momento que isso pode ser bom e em outro momento isso pode ser ruim. A própria CazéTV, por exemplo, ela foi alvo de críticas nas últimas Olimpíadas, porque tiveram uns comentários de cunho sexual dos próprios comentaristas em relação às atletas do nado sincronizado.
Então, tudo isso tem que ser levado em consideração e ajustado, sem perder a essência que torna o canal um sucesso. Então, ao mesmo tempo que tem que ser uma conversa de bar ali.
E tem um outro risco que eu vejo, que é a questão da dependência deles no YouTube. Isso é um canal que você está dentro de uma outra plataforma, que, querendo ou não, quando você tem um canal de TV, você é dono de tudo ali, dono de todos os dados.
Agora, numa plataforma como o YouTube, você fica dependente da plataforma. Se ela mudar alguma coisa que impacte o seu negócio... Não tem nada que você possa fazer a não ser se adaptar.
Mas com relação a esse último ponto, eu diria que Cazé TV e Live Mode já estão procurando se prevenir desse último risco, porque eles têm feito movimentos recentes como a inclusão do Cazé TV dentro de outras plataformas, como o Prime Video, que é o serviço de streaming da Amazon, o Mercado Livre, o serviço de streaming que o Mercado Livre tem, a CazéTV está lá também, na plataforma da Samsung.
Ou seja, a CazéTV está ampliando a sua audiência e diversificando a maneira como as pessoas podem ter acesso ao seu canal.
SG: Você mencionou as mudanças estruturais que estavam acontecendo no futebol brasileiro, a criação das SAFs, as ligas. Eu queria expandir esse tema para falar um pouco de riscos. As duas ligas para os principais times de futebol do Brasil, ao invés de uma, como acontece na grande maioria dos países desenvolvidos, é uma questão que causa um pouco de estranhamento.
Eu vejo um risco para a Cazé TV, à medida que com os times podendo se espalhar em várias plataformas e com a profissionalização da gestão dos clubes, esses têm um poder de barganha maior ao negociar os direitos de transmissão, o que acabe pressionando os custos.
Além disso, será que o torcedor vai ficar satisfeito em assinar diversos canais para poder ver todos os jogos do Brasileirão? É bom para os clubes, com certeza, mas é um desafio para os canais.
Do lado de oportunidades, tem muito espaço para os clubes brasileiros faturarem muito mais. Em 2022, os times da Série A tiveram uma receita de 1,2 bilhão de euros. Mas na Premier League da Inglaterra, talvez a principal liga de futebol do mundo, foram 6 bilhões de faturamento com quase 6 vezes mais espectadores8.
Quer dizer, tem muita coisa ainda para acontecer nesse mercado, uma baita oportunidade de negócios aí.
Aí eu fico pensando no que aconteceu lá atrás, com a Esporte Interativo comprada pela Turner. Será que a gente pode se perguntar, não pode vir um gringo aí para comprar e levar tudo isso? Eu acho que vontade não vai faltar.
LT: É, acho que o mercado brasileiro tá se transformando aí em um grande mercado pra quem olha de fora também. Eu já vi fofoca dos donos da Live Mode, né, falando aqui e ali, que eles não estão interessados em vender não, porque eles meio que, não que se arrependeram, vai, mas eles meio que ficaram com dor no coração depois de vender lá atrás, a Esporte Interativo.
Então, parece que eles não estão afim de vender de novo, porque eles querem construir um negócio grandioso também. Então dinheiro assim, pra já, acho que eles não precisam, depois da venda do Esporte Interativo.
Então talvez eles estejam mesmo com ambição pra construir algo mais grandioso mas é claro que se vier uma proposta aí a gente pode acompanhar tudo pela Cazé TV ou com o Twitch aí do Casimiro e afins que com certeza ele vai fazer um react desses grandes números né.
Leticia Toledo: Você ouviu mais um episódio de Caçadores de Sucesso. A pesquisa foi feita por mim, Letícia Toledo, pelo Sérgio Goldman e pela Ana Pinho. A produção é da Ana Pinho, a edição é do Pedro Rodante.
Você pode encontrar o podcast no LinkedIn, no Instagram e no YouTube. Tudo no arroba cacadoresdesucessopod.
Se você quiser dar sua opinião sobre esse episódio, fazer parceria ou só falar com a gente... Você pode mandar um e-mail para caçadoresdesucessopodcast@gmail.com.
Obrigada e até a próxima história.
https://www.meioemensagem.com.br/midia/casimiro-se-une-a-livemode-para-transmissoes-de-futebol
https://www.meioemensagem.com.br/olimpiadas/audiencia-olimpica-os-recordes-de-globo-e-cazetv
https://www.poder360.com.br/opiniao/a-grande-campea-do-mes-das-copas-a-cazetv/
https://www.generalatlantic.com/media-article/general-atlantic-and-xp-announce-strategic-minority-investment-in-brazil-based-livemode/
https://pipelinevalor.globo.com/negocios/noticia/quanto-xp-e-general-atlantic-investiram-na-livemode-dona-da-cazetv.ghtml
https://latinlawyer.com/article/xp-and-general-atlantic-land-brazilian-sports-streaming-investment
https://ge.globo.com/negocios-do-esporte/noticia/2023/03/28/livemode-parceira-de-casimiro-explica-modelo-de-negocios-e-perspectivas-da-cazetv.ghtml
https://www.ft.com/content/eea1962a-ae17-4d92-9fe8-d5407c17f2a6
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